HISTÓRIA REGIONAL

COLUNISTA - Francisco JosE dos Santos Braga


INAUGURAÇÃO DO JARDIM DA PAZ EM HOMENAGEM A PROF. TIAGO ADÃO LARA


Por Francisco José dos Santos Braga



A última reunião ordinária do Instituto Histórico de São João del-Rei do ano de 2016, nesta data de 4 de dezembro, contou com a presença ilustre do Prof. Tiago Adão Lara, o "último sobrevivente" fundador do nosso Sodalício, em 1º de março de 1970. Ele foi convidado para inaugurar o Jardim da Paz que leva o seu nome, num pequeno pátio interno do Instituto, sendo instalado em sua homenagem nesta data. 

Inicialmente o presidente José Cláudio Henriques convidou o homenageado Prof. Tiago Adão Lara e o confrade Paulo Roberto de Souza Lima (que fez jus a seu diploma de sócio efetivo e ao bóton do Instituto, após ter feito a defesa de seu patrono José Mattol) para comporem a mesa dos trabalhos. Em continuidade, ele bem que tentou dar à reunião um caráter sério, através da leitura da ata da última reunião (de novembro) e de fazer alguns comunicados. Mas logo percebeu que seria impossível dar seguimento a esse seu desejo, eis que todos os confrades queriam fazer desse encontro um congraçamento. Motivos não faltavam. Além da presença do Prof. Tiago em nossa Casa, está aniversariando hoje o major Murilo Geraldo de Souza Cabral que tem um papel determinante na inauguração do Jardim da Paz, como se verá adiante. Dentro desta presente semana ainda aniversariam o tesoureiro José Carlos Hernández Prieto e Maria Lúcia Guimarães, esposa do vice-presidente Prof. José Alberto Ferreira e que nos brindou com salgados, petiscos e canapés em despedida do ano que se encerra. Motivos para o congraçamento não faltavam, portanto.

Antes de nos dirigirmos ao tão aguardado Jardim da Paz "Prof. Tiago Adão Lara", houve uma sessão de música ao violão, tocado pelo confrade José do Carmo dos Santos, o qual é o atual presidente da Sociedade de Concertos Sinfônicos, acompanhando-nos como  cantores, na canção de Roberto Carlos: "Como é grande o meu amor por você".

A seguir, José Antônio de Ávila Sacramento pediu a palavra para cumprimentar Prof. Tiago Lara, que se constituía num esteio para o nosso Instituto. Falou ainda acerca da importância de o Instituto relembrar  o 8 de dezembro, por ser data em que devemos comemorar a elevação de Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar a Vila de São João del-Rei.¹ E, por fim, fez uma homenagem ao autor desta matéria por estar assumindo no próximo dia 14 de dezembro a condição de sócio efetivo da Academia Divinopolitana de Letras, na cadeira nº 11 cujo patrono é Pe. António Vieira.

Eu fiz também uma intervenção para cumprimentar o homenageado Prof. Tiago, lembrando especialmente seu domínio da História da Filosofia e sua competência nos temas relativos à filosofia patrística, abordados pelo seu maior expoente, Santo Agostinho. Dei o testemunho de que fiz muitas vezes o percurso de minha casa até à Faculdade Dom Bosco, a pé, em manhãs frias, apenas para ouvi-lo falar de tais assuntos, juntando-me aos seminaristas que eram os seus discípulos obrigatórios, sendo eu um mero aluno especial (ouvinte, como se costumava dizer), que, no entanto, tinha a autorização do mestre para acompanhar as suas preleções, naquelas disciplinas.

Para agradecer a essas manifestações carinhosas, Prof. Tiago tomou da palavra para inicialmente falar da sede do IHG (a casa mais antiga de São João del-Rei), onde nos encontrávamos reunidos: 
"Estou apreciando hoje esta reunião remexida e temperada. Nós remexemos e temperamos uma reunião gostosa, de vivência. Então eu gostaria de acrescentar a essa remexida umas lembranças minhas. Eu não sei se foi em 1939 ou 1940. Morava no andar superior daqui o meu tio-avô que chamávamos "Chadinho" (apelido do nome Sr. Machado). E aqui em baixo, onde nos encontramos, na minha fantasia de criança, morava uma família misteriosa, talvez meio herege, meio estranha para nós lá de cima. Minha avó sobretudo referia-se a eles como pessoal meio estranho. E nós éramos o Expedito, que era filho do Sr. Machado, as duas filhas dele, a Santa e a Zizita que ainda vive, meu tio-avô e minha tia-avó, a Zezé, eu, minha mãe, meu irmão e minha irmã mais velha (os mais velhos de casa). Eu sei que nós crianças arranjamos um pião e começamos a jogar o pião lá em cima. Daqui a um bocado,cá de baixo começou um fuzuê de bater com o cabo da vassoura no teto por causa do barulho. Então, essa é uma lembrança que está ligada a esta casa, que está ligada à vida são-joanense de muitas décadas atrás. E me recordo também da grande impressão que eu tinha sobretudo do cheirinho de pão, de manhã. Deveria ser mês de inverno, porque havia muita neblina. Eu levantava de manhã e aquele cheirinho... do pão. Era uma delícia! Então essa é a primeira imagem que eu tenho desta casa. Depois a lembrança da fundação do Instituto Histórico eu também tenho muito presente. Na realidade quando eu fui convidado eu disse: Gente, eu tenho muitas atividades e dificilmente eu vou poder participar de todas as reuniões, de todas as atividades. Mas me disseram: Não. De qualquer maneira, já estou ali no quadro de fundadores do Instituto (apontando para o quadro de fundadores). De cabelo preto e não branco, como me disse alguém hoje, o segundo ali naquela fila. Eu estava com meus 40 anos de idade. Bem então tenho nome, participei de muitas reuniões, mas poucos meses depois eu fui chamado pela Congregação para um trabalho na Europa em 1971. A fundação do IHG foi em 1970, se não me engano... março de 1970. No dia 10 de dezembro de 1970 eu viajei para a Europa e fiquei um ano e meio praticamente fora. Então eu não acompanhei os inícios, mas retornei várias vezes para aqui. Depois me mudei para Belo Horizonte, depois Uberlândia e fiquei distanciado muito tempo. Mas retornando para Juiz de Fora, na nossa região, então reatei a minha presença aqui e agora me vejo um símbolo de antiguidade. Bem conservado, que merece um jardim. Então, (voltando-se para Maria Lúcia Guimarães), ô Lucinha, se você quiser que o jardim tenha também o meu cheiro, deve plantar alecrim.
A seguir, Prof. Tiago ainda lembrou que todo Instituto Histórico tem a obrigação de resgatar fatos passados, mas que tinha também a obrigação de fazer história, modificando por sua vez as condições que encontrasse na direção de uma cidade melhor, um Estado, um país e um mundo melhor. 

Neste momento, o violonista e os cantores se prepararam para mais um "round" de canto. Foi a vez do "Alecrim Dourado".

Quando a música terminou, o presidente convidou todos a encaminharem-se para o pátio interno. Lá chegando, o presidente convidou o Prof. Tiago a descerrar a placa de inauguração do Jardim da Paz "Prof. Tiago Adão Lara", enquanto o violonista e os cantores entoavam mais uma música: "Bem-te-vi", de Paulinho Pedra Azul.
Prof. Tiago descerrando a placa do Jardim, auxiliado por sua esposa Maria Helena Falcão Vasconcellos.

O presidente José Cláudio informou que fazia parte desse jardim outra placa, de bronze, sobre um pedestal de metal, com 12 anos de existência, placa esta que foi resgatada do abandono e desleixo total, arrancada da base da ponte do Rio das Mortes e jogada por terra às margens do rio, com os seguintes dizeres:

  
Aos 8 dias do mês de dezembro de 2004, 281 anos de elevação a Vila, chegou neste local que outrora foi o Porto Real da Passagem o Comandante Major Murilo Cabral, que fez a pé, simbolicamente, o mesmo percurso (Taubaté-São João del-Rei) do fundador do 1º Núcleo Habitacional da Cidade de São João del-Rei "TOMÉ PORTES DEL REI".
ASSOCIAÇÃO COMERCIAL E INDUSTRIAL DE SÃO JOÃO DEL-REI, INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE SÃO JOÃO DEL-REI E ASSOCIAÇÃO DOS MORADORES DO GRANDE MATOSINHOS 
Placa de bronze comemorativa dos 281 anos de elevação a Vila e da peregrinação cívica de Murilo Cabral, de Taubaté-SP a São João del-Rei.

Da esq. p/ dir.:  Presidente José Cláudio Henriques, Murilo Cabral e Wangui.

No fundo do Jardim, da esq. p/ dir.: Murilo Cabral, Wangui, José Carlos Hernández Prieto, Gina Muffato, Paulo Roberto Souza Lima, o autor e Wainer Ávila.

À frente, Rute Pardini; no fundo, da esq. p/ dir.: Agostinho, Maria Helena e Prof. Tiago Lara.
Da esq. p/ dir.: Nêudon Bosco, José Antônio de Ávila Sacramento e Paulo Chaves; à frente, Betânia e Maria Lúcia Guimarães.

Após encerramento da reunião, houve uma reunião de congraçamento, para festejar os aniversários e a inauguração do Jardim.
O autor e Maria Lúcia Guimarães.
Paulo Roberto de Souza Lima é empossado sócio efetivo.

Da esq. p/ dir.: Prof. Tiago Adão Lara, sua esposa Maria Helena e o autor. No fundo, Betânia, Nêudon Bosco, Agostinho e Paulo Roberto.
Da esq. p/ dir.: O autor e o 2º Secretário do Instituto, José Domingos de Souza


Da esq. p/ dir.: Soraia e bibliotecária Roberta
Confraternização




I.  NOTA EXPLICATIVA



¹  Por oportuno, entendo que cabe aqui transcrever o Auto de Levantamento da Villa de São João d'El Rey, para dar crédito à placa de bronze cuja imagem é mostrada acima: 
No “Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil sete centos e treze annos, aos oito dias do mez de dezembro do dito anno neste Arraial do Rio das Mortes, onde veiu por ordem de Sua Majestade, que Deus Guarde, Dom Braz Balthazar da Silveira, Mestre de Campo General dos seus exércitos, Governador e Capitão Geral da Cidade de São Paulo, e Minas, para effeito de levantar Villa o dito Arraial; e logo em virtude da dita Ordem, que ao pé deste Auto vai registrada, o criou em Villa com todas as solenidades necessárias, levantando o Pelourinho no lugar, que escolheu para a dita Villa a contento, e com aprovação dos moradores della, a saber na xapada do morro que fica da outra parte do córrego para a parte da Nascente do dito Arraial, por ser o citio mais capaz e conveniente para se continuar a dita Villa, a qual elle dito Mestre de Campo General, e Governador e Capitão General appelidou com o nome São João dEl Rey, e mandou , que com este título fosse de todo nomiado em memória de El Rey Nosso Senhor por ser a primeira Villa que nestas Minas elle dito Governador e Capitão General levanta assistindo a esta nova erécção o Dezembargador Gonçalo de Freitas Baracho, como Menistro do dito Senhor que se acha Ouvidor Geral desta dita Villa, como tão bem assistido toda a nobreza, e Povo della, e se levantou com effeito o dito Pelourinho, e ouve elle dito Governador e Capitão General por erecta a dita Villa, creando nela os Officiaes necessários, assim os Milicias, como de Justiça conducentes ao bom regimen della, e mandou se procedesse a elleição dos pelouros para os Officiaes da Camara na forma da Ley, e de tudo mandou fazer este Auto que assignou com o dito Dezembargador, Ouvidor Geral, e eu Miguel Machado de Avelar Escrivão da Ouvidoria Geral que o escrevy – Dom Braz Balthazar da Silveira – Gonçalo de Freitas Baracho.” 
Aqui se acha transcrito o Auto de Levantamento da Vila de São João del-Rei, cujo original infelizmente se encontra extraviado. 


AGRADECIMENTOS



O Jardim da Paz é um projeto  do Instituto, para o qual Murilo Cabral contribuiu com a cobertura de todas as despesas para a sua construção; ficaram diretamente responsáveis pela administração Maria Lúcia Guimarães e Paulo Roberto de Souza Lima.
Crédito por todas as imagens: Rute Pardini. 

 

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