HISTÓRIA REGIONAL

MEMÓRIAS DO CARNAVAL SÃO-JOANENSE

           Não há como negar que as festas de momo vieram das grandes festas de igreja, tais como festa do Divino, folia de reis, congado, maculelê etc. As cavalhadas, que representam a luta medieval entre mouros e cristãos, entronadas nas festas de igreja até o século passado, são até hoje festejadas nos carnavais das cidades de Bonfim (MG), Amarantina (Distrito de Ouro Preto - MG), Caeté (MG) e Pirenópolis (GO).
            Segundo Ângelo Oswaldo, historiador e ex-prefeito de Ouro Preto, foi no ano de 1865 que o Zé Pereira chegou a Minas. O Zé Pereira era um homem fantasiado que a toque de caixas saía antes dos dias de carnaval e era acompanhado pela multidão em frenéticas algazarras. Do Zé Pereira surgiram os blocos carnavalescos aqui em São João. Em Matosinhos, José Rodrigues lembra muito bem e até canta o primeiro samba, segundo ele que foi composto para o Bloco Carnavalesco “Aldeia Africana”, cujo líder era o Zé da Igreijinha, nascido no Alto do São Geraldo e que veio morar na Vila Santa Terezinha nos primórdios dos anos 40. Atualmente, os mais tradicionais blocos são: a “Lesma-Lerda”, cuja concentração e ponto de partida ocorrem na Avenida Oito de Dezembro, na quarta-feira antecedente aos dias de carnaval; bloco das “Domésticas”, de concentração na Rodoviária Velha; na quinta-feira; “Pão-Molhado” do Tejuco e “Copo-Sujo” do Bonfim, que saem na sexta-feira. No sábado de carnaval, amanhecendo, sai o famoso bloco da “Alvorada”, cuja maioria dos participantes saem de pijama a partir das seis horas da manhã e, durante o dia de segunda-feira de carnaval sai o bloco “Vamos a la Playa”, que usa o gramado do córrego do Lenheiro defronte ao Hotel Ponte Real como área de diversão. A partir do ano de 2002 foram criados diversos outros blocos carnavalescos, que hoje fazem do carnaval de São João del Rei, um carnaval de 12 dias, ou seja, começa numa sexta-feira anterior à sexta-feira de carnaval e vai até a quarta-feira de cinzas.
            O Sr. Mário Gallo, mais conhecido como Tito Gallo, nascido em São João em 06/08/1922, nas proximidades da Praça Raul Soares, lembra muito bem das antigas sociedades e ranchos carnavalescos da década de 1930, sendo que alguns antecediam a esta data como o “Clube X” que era o mais chique, onde saía a fina sociedade são-joanense. Seus diretores eram o comerciante Carlos Guedes, José Belini dos Santos, Dermeval Sena, José Viegas e Major Américo Santos. Seu reduto era a Rua Santo Antônio. Da antiga Prainha, hoje Rodoviária Velha, saíam o “Boi-Gordo”, da família Diláscio, e o “Custa mais Vai”, que posteriormente foi encampado pelo Ginêgo do Tejuco. Tinha também o “Clube dos Quarenta”, comandado pelo Álvaro de Souza, e o rancho “Prazer das Morenas”, dirigido pelo Eduardo Câncio e Zé da Igrejinha. Naquela época, oficiais e praças se misturavam no animado carnaval, sendo que o 51º Batalhão de Caçadores, atual 11ºBIMth, emprestava belos cavalos que desfilavam como abre alas e comissão de frente das agremiações. Os salões de clubes eram muito freqüentados, destacando-se o Athletic, Minas, Sírio e Libanês e salão da Associação Comercial, incluindo sempre a presença do presidente da república Dr. Tancredo Neves e seu maior amigo Belizário Leite. O fim de noite ou o amanhecer era no Café República, o tradicional cabaré da cidade que ficava perto do Posto Strefeze. Ficavam movimentados também vários bares e principalmente o Café Ideal, onde hoje é a Loja Panamericana, na Rua Artur Bernardes, e Café Rio de Janeiro, na esquina de Artur Bernardes com Av. Tancredo Neves. O corso carnavalesco não faltava durante o dia. Eram filas de automóveis como os famosos “Ford29”, de capota abaixada, jogando confetes, serpentinas e limões ocos de cera cheios de água perfumada.
            A nova era das Escolas de Samba em São João del Rei teve início no ano de 1956 e seu precursor foi Jota Dângelo, médico, jornalista e teatrólogo, que criou a fantástica Escola de Samba “Qualquer Nome Serve”. Depois surgiram a “Falem de Mim” que, juntamente com a Qualquer Nome Serve, eram as preferidas da elite são-joanense. Em seguida apareceram a verde e branca “Largo da Cruz”, comandada pelo Major Titoca, “Imperatriz”, da Rua do Barro, comandada pela família do Papa-Arroz, e “Depois eu Digo”, do Tejuco, comandada pelo Ginêgo. Não podemos esquecer que nesta época desfilava como bloco o sensacional “Bate-Paus”, do Senhor dos Montes, que virou Escola de Samba e até hoje apresenta uma ala folclórica de batedores de paus em evolução.
            Até o ano de 2003, São João possuia onze Escolas de Samba, a saber: “União”, fusão da Qualquer Nome serve com a Escola de Samba do Bonfim; “Girassol” de Matosinhos, “Vem me Ver”, do Tejuco; “Vira-Vira”, do Bela-Vista; “São Geraldo”, do bairro São Geraldo; “Bem me Quer”, da Rua do Barro; “Metralhas”, do largo do Carmo; “Bate-Paus”, do Senhor dos Montes, “Unidos da Ponte” do bairro COHAB, Coração Rubro-Negro, do largo do Carmo e a Escola de Samba, também do bairro de Matosinhos, criada no ano de 2000, “Arco Íris”.    Diversas outras agremiações tiveram vida curta apesar dos esforços heróicos de seus fundadores.
            Lamentavelmente, temos que registrar a infeliz decisão de alguns dissidentes, que abandonaram a Girassol e criaram a Escola de Samba Arco Íris, a prejuízo do Grande Matosinhos, pois, tudo que separa tende a enfraquecer

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