HISTÓRIA REGIONAL
COLUNISTA - JOSÉ CLÁUDIO HENRIQUES
OS BUSTAMANTE SÁ FORTES DE BARBACENA E SÃO JOÃO DEL REI
Por José Cláudio Henriques
São João del Rei/MG
Em 14/09/2024
Os Bustamante Sá Fortes de Barbacena (MG) e São João del Rei (MG) tiveram como tronco inicial o Juiz de Fora do Rio de Janeiro, Dr. Luiz Fortes de Bustamante Sá, vindo de Portugal com a família, por nomeação de Dom João V, em 1711. Comprou de João de Oliveira, em 04/09/1713, uma Sesmaria, que hoje é a cidade de Juiz de Fora (MG). Essa Sesmaria acabou ficando para sua filha, Maria Angélica de Sá Meneses I, que se casou com o desembargador do Rio de Janeiro Dr. Roberto Car. Posteriormente, após outras vendas, a Sesmaria foi vendida para o capitão Antônio Vidal, pai do Inconfidente Domingos Vidal Barbosa Lage.
Dr. Luiz teve os filhos:
- Maria Angélica de Sá Meneses I anteriormente referida, nascida em Portugal;
- José Fortes de Bustamante e Sá, nascido em Portugal;
- Francisca Xavier Bustamante, nascida no Rio de Janeiro e casada em Barbacena em 10/05/1742 (Testamento IPHAN-SJDR: L16 Doc 193);
- Rita Luiza Vitória Bustamante Sá (Testamento IPHAN-SJDR: L18 Doc 127);
- Joao Pedro de Bustamante Sá;
- Francisco Xavier Fortes de Bustamante e Sá (Testamento IPHAN-SJDR: L 48 Doc 85v).
Vamos destacar apenas algumas personagens da família, que se relacionaram mais com nossa região, tais como:
- Rita Luiza Vitória Bustamante Sá, nascida no Rio de Janeiro em 1727, casou-se em 17/11/1755, em Barbacena (MG), com o Capitão-Mor de São João del Rei, Manoel Antunes Nogueira, nascido em 1705 em Braga (PT), filho de Brás Antunes e Pascoa Taveira, e, falecido em São João del Rei em 14/12/1779. Ao morrer, e diante do inventário feito em 1780 (IPHAN-SJDR: Cx - 51), o Capitão-Mor deixou um montante de 59:212$156 (cinquenta e nove contos, duzentos e doze mil, cento e cinquenta e seis reis), sendo que depois de pagas as suas despesas, ficou para sua esposa, sua inventariante, 24:684$047 e, para cada herdeiro, o valor de 3:291$206, sendo os seguintes herdeiros:
- Luiza Felícia Sinfroza de Bustamante – 23 anos, nascida em 1756. faleceu solteira, com testamento em 22-03-1845 (IPHAN-SJDR: L60 Doc 03 e 16. Inventario cx 455). Posteriormente herdou da falecida sua mãe, a casa do Matola , onde moravam, avaliada em 3:200$000 (três contos e duzentos mil reis), as fazendas do Moinho e do Morro Grande avaliadas em 20:000$000 (vinte contos de reis). Seu inventário foi feito pelo seu sobrinho, Comendador Francisco Theresiano Fortes em julho de 1845. Luiza Felícia foi grande benfeitora da Santa Casa de Misericórdia de São João del Rei.
- Luiz Fortes de Bustamante (IPHAN-SJDR: Doc 16), tenente da artilharia da corte, nascido em 1757 (22 anos), em São Joao del Rei, teve 9 (nove) filhos com Ana Tereza e 6 (seis) com Maria Leonarda, parte nascidos em São João del Rei e parte nascidos em Conceição da Barra de Minas. Foi administrador dos dízimos de São João del Rei de 1827 a 1829. Em seu testamento pediu para ser enterrado no cemitério da Santa Casa de Misericórdia de São João del Rei.
- Manoel de Sá Fortes de Bustamante Nogueira, 20 anos, capitão-mor de Barbacena, batizado em 21/10/1759 em Barbacena. Teve 6 (seis) filhos nascidos em Barbacena.
- Maria Angélica de Sá Menezes II, homônima de sua tia, citada no início,18 anos, nascida em 1761 em São Joao del Rei. Em 10/08/1791 casou-se com o Coronel Carlos José da Silva, administrador de contratos do governador da Capitania de Minas Gerais.
- Ana, batizada em 15/01/1763 (16 anos) sem descendência e sem herança.
- Francisco Dionizio Antunes Nogueira, infante, nascido em 09/10/1766, 13 anos. Francisco Dionizio é tido como fundador da cidade de Rio Preto (MG). Foi dono de diversas Sesmaria e diversas fazendas na Região de Rio Preto, inclusive a famosa Fazenda Santa Clara.
NOTA: Luiza Felícia Sinfroza de Bustamante, doou para a Santa Casa de SJDR, um Sitio na localidade do Cala-boca, região de São João del Rei, que fica entre o Bairro de Matosinhos e a localidade chamada “Morro Grande”, onde eles também tinham propriedade, fazendo crer que aliada a dita Sesmaria, o Capitão Manoel possuía diversas propriedades.
O Capitão Manoel Antunes Nogueira (IPHAN-SJDR, Cx 51) possuía um Sítio denominado Domingos dos Reis, com seus logradouros, que parte de uma banda com a Fazenda da inventariante, sua mulher, chamada O Curral Velho e da outra com José de Azevedo, por outra com o Sitio chamado O Pinhal. (300$000);
- Uma Sesmaria de matos virgens sita nas Gerais, que parte com o Sitio Pinhal e da outra com Francisco Ferreira Armond e com a Sesmaria de João Homem da Costa. (450$000);
- Um Sitio com casas e seus logradouros denominado Catanduvas, que parte com ela Inventariante e Gaspar José de Abreu e com Manoel Francisco Xavier Bueno. (100$000). Todos em Barbacena.
Na região de São João del Rei possuía a Fazenda Moinhos, que confrontava com sua Sesmaria, de meia légua em quadra, passada em 19/06/1759, que ficava na paragem das cabeceiras do Ribeirão da Água Limpa, Termo da Vila de SJDR, na estrada que vinha do Elvas, confrontando com o Barro Vermelho, e ao sul com o pé do Morro Grande para o Onça. É bem provável que este local está hoje nas imediações do chamado “Trevo do Elói” com o Presidio do Mambengo. (IPHAN-SJDR, Cx 51). Possuía também, a Fazenda Ressaca no Rio Grande. Duas moradas de casas térreas sitas no morro do Manoel José, confrontando com José Rodrigues de Castro (5$666). Umas terras minerais que correm dos fundos da chácara que foi do Padre Francisco Correia, entre a igreja do Carmo e a Ponte do Rosário (6$666). Deixou 39 escravos
O bairro de Matosinhos, tem tudo para estar incluso na citada sesmaria, onde moraram até a morte, Dona Rita Leocádia da Silva (IPHAN-SJDR, L. 67, Cx 130 Doc. 38) e Dona Carlota Camila da Silva, filhas de Maria Angélica e do Coronel Carlos José da Silva, citadas na Festa do Divino de Matosinhos, conforme informa o historiador e pesquisador Ulisses Passarelli. Também informa que o Córrego da Água Limpa nasce no distrito de Emboabas e corre recebendo diversos afluentes, sendo um deles o Cala Boca,
Vista parcial do Morro Grande tomada do alto do bairro Lombão, onde ao fundo a direita se vê o bairro Novo Horizonte, sendo que abaixo passa o Córrego da Água Limpa, a direita o Córrego do Cala-boca e atras do ponto mais alto fica o Presidio do Mambengo.
Como se pode notar, o capitão mor e sua esposa possuíam diversas Sesmarias, fazendas e Sítios, que confrontavam com propriedades deles próprios.
DA PARTILHA
A inventariante do capitão Manoel Antunes Nogueira foi sua própria mulher, cujo marido, deixou para Dona Rita, o seguinte:
Metade do valor das casas em que moravam, citas ao pé da fonte do Matol (bairro Matola, em São João del Rei), com seu quintal de taipão, cujas casas são de sobrado forradas e assoalhadas com um pasto de cavalos e bezerros e bananais com sua capela bem preparada, onde atualmente se diz missa, e um pasto chamado de Tanque, donde vem água para ditas casas de vivendas, que deságua na cabeceiras do Segredo, cerca de valos e um pedação de terras defronte do patrimônio do Reverendo Joaquim Pinto da Silveira, ao pé da mesma fonte do Matol, correndo para o morro do pé da estrada que vai para a chácara do Tenente Amaro da Cunha Barreto. (1:400$000).
Metade do valor das duas moradas de casas térreas sitas no Morro chamado de Manoel José, desta Vila, que confrontam de uma banda com casas de José Rodrigues de Castro. (40$000).
Metade do valor de umas terras minerais, que correm dos fundos da chácara que foi do Padre Francisco Correa e de trás do Carmo, cortando pela esquina da capela maior da igreja, atravessando pela Rua do Curral, beirando a praia até a ponte do Rosário. (50$000).
NOTA: “Esta última citação é hoje o Largo do Carmo, confrontando com o Bairro Senhor dos Montes, em São João del Rei. Existiam várias Ruas do Curral, uma delas, é a própria, onde hoje se encontra o Mercado Municipal e outra onde se encontra hoje o Largo Tamandaré”.
TESTAMENTO DE DONA RITA LUIZA VITORIA DE BUSTAMANTE SÁ
No seu testamento, Dona Rita Luiza (IPHAN – SJDR, L 18, Doc 127) declara que sua filha Luiza Felícia Sinfroza de Bustamante, sempre lhe fez companhia, e demonstrou ser uma filha leal e dedicada, nomeando-a como primeira testamenteira e universal herdeira, deixando para ela todos os bens a ela pertencentes.
Ela também deixou: 2:005$279 em barras de ouro, 116$000 em ouro lavrado, muitas joias, objetos de ouro, prata, cobre, latão, ferro e móveis de casa.
Dona Luiza foi também tutora do menor João Pedro de Bustamante Sá, seu sobrinho, filho do tenente Luiz Fortes de Bustamante. João Pedro possuía uma Sesmaria nos Olhos D’água da Borda do Campo em 1789.
Testamento assinado em São João del Rei, em 23/08/1809.
TESTAMANTO DE LUIZA FELICIA SINFROSA DE BUSTAMANTE
O testamento de Luiza Felícia Sinfroza de Bustamante (IPHAN - SJDR, L 60, Doc 3) foi feito em 25/08/1836, nascida em São João del Rei em 1756 e falecida solteira em 22/03/1845. Foi seu testamenteiro, seu sobrinho Comendador Francisco Theresiano Fortes, filho de Francisco Dionísio. Deixou por herdeiras duas sobrinhas, filhas legitimas de Luiz Fortes Bustamante de nome Maria Theresa Fortes de Bustamante, casada com seu sobrinho e testamenteiro Comendador Francisco Theresiano Fortes, e Maria Benedita de Souza Fortes, casada com o Doutor médico, Gabriel André Maria de Ploisquellec e por sua morte, para seu filho também de nome Gabriel.
...Eu Luiza Felícia Sinfroza de Bustamante...declaro que sempre vivi em estado de solteira e sem descendentes...
...sou irmã da Irmandade do Santíssimo Sacramento. É minha vontade deixar para os pobres 24 mil reis, cinco missas para Santas Chagas, cinco para meus pais, cinco para meus escravos falecidos, 200 mil reis para Irmandade do Santíssimo Sacramento. Libertar os escravos: Eugênia, Theodoro, Ana, todos cabras. Também, Justério, sua filha Angélica Parda e Manoel Cabra, que ponha todos em liberdade.
Deixo a chácara que foi do Couto com todas as terras, não podendo vender até que permaneça com o último.
Os bens que possuo serão dados a inventário por meu testamenteiro, no qual não entrarão as moradas das casas de sobrado sitas nesta Vila, por eu ter dado para minha sobrinha Dona Maria Benedita de Souza Fortes, com as condições nelas passadas de pagar minhas dívidas e cumpridos meus legados de tudo que houver. Instituo também minha sobrinha Maria Thereza Fortes de Bustamante, casada com meu sobrinho capitão Francisco Theresiano Fortes a outra metade em usos e frutos com Maria Benedita de Souza Fortes, casada com o Doutor médico, e por sua morte, para seu filho Gabriel, e quando este falecer passarão para sua irmã Dona Maria Thereza Fortes de Bustamante
Escrito por meu compadre João Gonçalves Gomes e por mim assinado, em São João del Rei.
RECIBOS DEPOIS DE AVALIAÇOES
Recebi do testamenteiro de Dona Luiza Felícia a quantia de 21$112 (vinte um mil cento e doze reis), a saber: 14$000 que paguei (???) da compra da chácara, casas e campos do Ribeirão da Água Limpa , que a testadora comprou de Severino Reis Duarte e não havia pago as referidas casas, 1$980 de uma conta que se achava junto da caixa de Bernardo S. Gomes e sua mulher, das terras mencionadas no citado acima, 2$000 pagos a Vitório José Fortes por despesas do caminho ao Rio Preto, de negócios da testadora, cujas parcelas perfazem 21$112.
São João del Rei, 06/02/1846
Nota: Não encontrado recibos no valor de 3$132 para perfazer 21$112
Somadas outras despesas:
conforme outros recibos................. 3:830$825
Bens de Luiza Felícia .................... 25:000$130
Saldo a favor de Luiza Felícia ....... 21:169$305
MARIA ANGÉLICA DE SÁ MENEZES
Ficou para Maria Angélica as escravas Felipa Mulata (145$000) e Fulana (ilegível) Crioula (70$000), joias, 5ª parte da 3ª parte das casas de Matosinhos.
TESTAMENTO DE RITA LEOCADIA DA SILVA (IPHAN – SJDR: L 67 Cx199)
Rita Leocádia da Silva, filha de Maria Angelica, nasceu em Ouro Preto e morreu solteira em 11/09/1871. Nomeou como 1ª testamenteira sua irmã Carlota Camila da Silva, como 2º, seu irmão José Teodoro Carlos da Silva e como 3º Carlos José da Silva.
Mandou também celebrar 600 missas por alma de seus pais.
Seu testamento foi feito em Matosinhos de São João del Rei em 18/09/1868 escrito por Teodoro Carlos da Silva e aprovado pelo escrivão Gustavo Ernesto da Silva, tendo como testemunhas: Bernarda Teixeira de Carvalho, Herculano José da Rocha Maia, Heitor José Alves da Trindade e Manoel José Viana
A seguir, bem a posterior, um belo artigo encontrado no Jornal O DIA número 65, 23/05/1912, sem identificar o articulista, mencionando as irmãs Dona Rita e Dona Carlota.
“Quando eu era bem criança, antes da locomotiva, atoando os ecos do Lenheiro, vi despertar nosso torrão apontando-lhe a senda do progresso. Costumava passar um ou dois meses por ano em Matosinhos, por ocasião das Festa do nosso Senhor Bom Jesus de Matosinhos. Nesse tempo ia-se pelo Matola, passava-se perto do Matadouro Velho em plena Capoeira, fazia-se escala na Dona Rita da praia, uma boa velhinha que morava num sobrado a meio do caminho e assentava-se no paredão da ponte da Água Limpa , antes de penetrar no Arraial, chegando, a maior preocupação era ir a procura das laranjas e dos limões que se obtinham, por 10 reis, em muitas das belas chácaras daquela abençoada terra. O melhor do nosso era ir a chácara da Dona Carlota comprar favos de mel... em compensação obtínhamos licença para uma devassa em regra nos magníficos morangos que bordavam os canteiros bem cuidados”
NOTA; segundo o pesquisador e historiador Ulisses Passarelli, o Matadouro, que necessitava de muita água para lavagem de carnes, ficava logo após a hoje Sede dos Ferroviários, a caminho da mencionada ponte da Água Limpa.
Finalmente, relacionado aos inventários, em 1867, o Cel. Teodoro Carlos da Silva, nomeia como Inventariante seu irmão, Barão de Pouso Alto, feito em Baependi (MG).
Teodoro Carlos da Silva em 03/06/1867 deixou como herdeiros: 1º -Barão de Pouso Alto, filho de Maria Angelica, 2º - Carlos José da Silva, morador no Rio de Janeiro, e 3º - Carlota Camila da Silva, moradora em Matosinhos, todos irmãos.
O coronel Teodoro Carlos da Silva, faleceu solteiro e sem filhos, no Arraial da Freguesia de Pouso Alto (MG). Era natural de Ouro Preto, também, filho do Coronel Carlos José da Silva e de Dona Maria Angélica de Sá.
Eis parte do seu testamento:
Meu enterro será sem pompa nem ostentação. No lugar de despesas com velas prefiro que distribua Um conto e quinhentos mil reis, para os pobres de qualquer lugar e viúvas desvalidas.
Deixo para a Irmandade do Bom Jesus dos Passos, em Pouso Alto, uma apólice. Deixo 500 mil reis para cada uma das ordens religiosas de São João del Rei (São Francisco e Carmo) dos quais sou irmão. Um conto de reis para a Santa Casa de Misericórdia de São João del Rei, para comprar apólice, a fim de usar para os enfermos
FIM. – 14/09/2024
O bairro do Matola fica hoje ao lado do 11RMh, sendo que na época de morada de Dona Luiza Felicia, este bairro ia até se encontrar com o córrego do Segredo, onde hoje está a ponte soterrada da Misericórdia.