HISTÓRIA REGIONAL

Primeira Reunião do Centro de Estudos da Santa Casa da Misericórdia


Por Francisco José dos Santos Braga


I. TEXTO: NA SANTA CASA: A HOMENAGEM

Pela equipe editorial do jornal "Ponte da Cadeia"



A noite de 29 de abril ¹ marcou a primeira reunião do Centro de Estudos da Santa Casa sob a presidência do dr. Euclides Garcia de Lima Filho.

A diretoria recém-eleita deliberou realizar a primeira sessão oficial com a finalidade específica de homenagear o dr. Ronaldo Simões Coelho.

Autoridades, médicos, funcionários da Santa Casa e convidados estiveram presentes à cerimônia, durante a qual uma entidade científica de reconhecido prestígio e de superior gabarito se congratulou com um dos médicos mais conhecidos desta região, por força dos trabalhos que ele vem desenvolvendo e nos quais o nome do nosso mais antigo hospital tem recebido, em âmbito  continental, as referências da justiça histórica e o reconhecimento da ciência médica.

Em seu discurso, falando também em nome do provedor da Santa Casa, disse o presidente do Centro de Estudos, entre outros conceitos: "Já tardava a homenagem ao colega Ronaldo, por tudo que tem feito, no seu trabalho silencioso em prol do bom nome da Santa Casa e dos seus colegas de São João del-Rei." E mais adiante: "Trabalho de paciência, cuja repercussão se pôde observar nos jornais mais importantes do país e no meio científico." Fez depois o dr. Garcia de Lima referência à inteligência e ao espírito científico do dr. Ronaldo Simões Coelho, expressando em seguida o agradecimento da classe médica de São João del-Rei e da Mesa Administrativa da Santa Casa pelo trabalho do homenageado, afirmando que a iniciativa do Centro de Estudos era um ato de justiça que as duas entidades prestavam a um colega que soube se elevar no conceito da classe médica e dos concidadãos.

Agradecendo, o dr. Ronaldo Simões Coelho explicou que "quem merece parabéns é a Santa Casa, por ter conservado os documentos que podem servir a quantos estudiosos se interessem por sua história maravilhosa e fascinante". Citou os historiadores Fábio Guimarães, Pedro Salles, Sebastião de Oliveira Cintra, Luiz de Mello Alvarenga e Augusto das Chagas Viegas, entre os pesquisadores que podem ainda extrair notáveis lições do espírito público, de solidariedade humana e de civilização, examinando os documentos que formam a história da vida da Santa Casa a partir do início do século XIX ². Agradeceu o dr. Ronaldo à Santa Casa pela oportunidade que teve, pois recebeu posteriormente numerosos convites de entidades científicas, tanto de Minas Gerais como de outras partes do país, assim como do exterior, tudo isso consequência direta dos seus trabalhos mas evidentemente resultantes das possibilidades oferecidas pela própria Santa Casa.

Apresentou logo depois dois trabalhos, um sobre a psiquiatria na Santa Casa, a partir de 1817 ³, e outro sobre a organização da assistência médica, há 150 anos, no mesmo estabelecimento .

Fazendo referência aos seus trabalhos, ilustrou a sua explanação com "slides" e mostrou aspectos do México, durante a sua viagem de interesse psiquiátrico.

Como já se tem publicado na imprensa, a partir das pesquisas do dr. Ronaldo Simões Coelho a história da Santa Casa da Misericórdia de São João del-Rei assumiu repercussão internacional, por ter ele apresentado, até agora sem nenhuma contestação, fatos que autorizam os estudiosos a afirmar que essa casa de beneficência foi o primeiro hospital geral a manter clínica psiquiátrica organizada em todo o Brasil e provavelmente em toda a América Latina.


Fonte: jornal Ponte da Cadeia, edição de 10/5/1972.

Crédito: historiador Fábio Nelson Guimarães (matéria selecionada pelo historiador e colada na página 31-verso do seu caderno verde)





II.  NOTAS EXPLICATIVAS





¹   Essa primeira reunião realizou-se em 28 de abril de 1972. 

[ALVARENGA, 2009, pp. 128-9] trata da 145ª Mesa Administrativa da Santa Casa da Misericórdia de São João del-Rei nos seguintes termos:
"Ano 1972/1974
Reeleita toda a Mesa Administrativa.
A Junta de Definidores ficou assim constituída:
Definidores: Dr. Antônio de Andrade Reis Filho; José Lombardi; Luíz de Melo Alvarenga; Onésimo Guimarães; Celson José de Resende; Álvaro de Almeida Neto; Júlio Teixeira; Joaquim Gonçalves Filho.
Em 28 de março de 1974, o Escrivão Rômulo de Castro Ferreira Alves solicitou sua demissão, por seus encargos na Fundação Universitária de São João del-Rei. Para seu lugar foi escolhido o Irmão Moacir Guimarães."

²  Aqui parece que dr. Simões Coelho está a incentivar seus sucessores na pesquisa que fez originalmente, publicada na Revista nº 1 do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, 1973, pp. 4-9, intitulada "Primeira Unidade Psiquiátrica em Hospital-Geral no Brasil: informação histórica". Nesse trabalho, ele comenta à pág. 4 da Revista: 
"(...) Marco notável foi a existência durante cerca de cem anos, de uma enfermaria para doentes mentais, ao lado da enfermaria de febres, de lepra e de outras especialidades médicas daquela ocasião. Trata-se da primeira unidade psiquiátrica em hospital de que temos notícia. Estes são os principais indícios de que os primeiros cuidados especiais com o doente mental no Brasil se realizaram aí, fato ainda não registrado na história da psiquiatria brasileira.
Este pequeno hospício foi mantido até 1918, quando se desmancharam as últimas celas para loucos, na ocasião da construção do Pavilhão Almeida Magalhães. Parece que a instalação do Hospital-Colônia em Barbacena contribuiu para a sua extinção. (...)" 
A meu ver, pode ser que esse pequeno hospício tenha durado um pouco mais, em face da informação  de [REIS, 2002, pp. 22-26], no livro "Estações de minha Vida", em que a autora, nascida em 5/11/1917, fala sobre seu pai, Dr. Antônio de Andrade Reis (1882-1947): 
"(...) Eu ainda era menininha quando ele comprou um terreno grande perto da Praça dos Andradas (hoje Praça dos Expedicionários), ao lado da Santa Casa e em frente à Igreja de São Gonçalo. Ali ele mandou construir uma casa para nós. (...)
Em São João del-Rei as tempestades são muito fortes. Eu e Antônio (seu irmão) subíamos numa cadeira na sala, a fim de alcançarmos a janela, e ficávamos admirando o céu relampejando.
O que me assustava eram os gritos dos loucos de um anexo da Santa Casa. Do meu quarto dava para ver o hospício e ouvir os gritos. (...)" 
Salvo melhor juízo, observa-se uma discrepância existente entre o testemunho da autora, confirmando a existência do hospício, certamente algum tempo depois de 1918 (provavelmente 1920 ou 1921, embora ela não precise exatamente o ano) e a citação pelo dr. Simões Coelho como sendo 1918 o derradeiro ano do hospício, "quando se desmancharam as últimas celas para loucos, na ocasião da construção do Pavilhão Almeida Magalhães". Teriam sido os loucos transferidos para algum anexo da Santa Casa até a completa extinção do referido hospício?


Também cabe aqui uma observação. Depois do seu artigo publicado na Revista nº 1 do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, após as "Referências Bibliográficas" dr. Simões Coelho publicou a seguinte 
"NOTA: — Na seção de obras raras da Biblioteca Nacional se encontra no jornal "Astro de Minas", de 9 de julho de 1835, P-7, 3, 1-13, onde há menção da Comissão encarregada de visitar os hospitais, cadeias e prisões militares e o seu relatório.
Agradeço ao Dr. Luiz de Mello Alvarenga as valiosas informações prestadas e à srta. Beatriz Barreto Moura a ajuda durante as pesquisas.

³   Parece tratar-se de um seu trabalho, mencionado nas Referências Bibliográficas da pesquisa mencionada na nota nº 1 acima, intitulado: "Contribuição à História da Psiquiatria Mineira. Estudos sobre o Hospital de Doidos da Santa Casa da Misericórdia de São João del-Rei, a partir de 1817", apresentado no Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei em 6 de junho de 1971.

   Parece tratar-se de outro seu trabalho, mencionado nas Referências Bibliográficas da pesquisa mencionada na nota nº 1 acima, intitulado: "Evolução da Assistência Psiquiátrica na Santa Casa da Misericórdia de São João del-Rei", trabalho apresentado ao Centro de Estudos da Santa Casa em 23 de abril de 1971.




III.   REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS




ALVARENGA, Luís de Melo: História da Santa Casa da Misericórdia de São João del-Rei (1783-1983), Belo Horizonte: 2009, 443 p., publicado com   o apoio do BDMG. 

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE SÃO JOÃO DEL-REI: Revista nº 1, Juiz de Fora: Esdeva empresa Gráfica S.A. 1973, 105 p. 

REIS, Niva de Andrade: ESTAÇÕES DE MINHA VIDA, Rio de Janeiro: Editora Lidador Ltda,  2002, 195 p.

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